domingo, 15 de abril de 2012

O Jornalismo da Família Rodrigues - 100 anos do nascimento de Nelson


A saga da família Rodrigues começou com o patriarca, Mário Rodrigues, em Pernambuco, estado da Federação onde nasceu e iniciou o exercício da profissão de jornalista no Diário de Pernambuco. Foi eleito deputado federal em 1915. Na época o jornalismo era impiedoso com os que ousassem desagradar aos donos de jornais. Comenta Nelson Werneck Sodré, no livro História da Imprensa no Brasil (1999):

"A linguagem da imprensa política era violentíssima. Dentro de sua orientação tipicamente pequeno burguesa, os jornais refletiam a consciência dessa camada para o qual, no fim das contas, o regime era bom, os homens do poder é que eram maus; com outros homens, o regime funcionaria às mil maravilhas, todos os problemas seriam resolvidos. Assim, todas as questões assumiam aspectos pessoais e era preciso atingir as pessoas para chegar aos fins moralizantes."

Depois de brigas políticas no estado, em 1916, Mário levou a família para o Rio de Janeiro. Na capital, o jornalista foi recebido por Edmundo Bittencourt, dono do jornal Correio da Manhã. O estilo jornalístico, de enfrentamento dos adversários, causou problemas ao anfitrião.

Mário saiu de Pernambuco com o desejo de trabalhar com Edmundo Bittencourt, dono do Jornal O Correio da Manhã. O periódico era o mais importante do Rio de Janeiro, na época. “Pernambuco, onde Mário havia começado a carreira como jornalista e político, ficara pequena para suas ambições” (Coelho, 2004:19). Quando chegou à capital federal, foi trabalhar com Edmundo e em poucos anos se transformou no principal repórter parlamentar da redação. Logo assumiu a direção do jornal.

Mas no dia 19 de novembro de 1923, o Correio da Manhã, dirigido por Mário Rodrigues acusava Epitácio Pessoa de, em troca de uma jóia oferecida à sua esposa, haver suspenso, em proveito de certos exportadores de açúcar, as medidas restritivas que o seu próprio governo estabelecera. Esse episódio foi chamado de o caso do colar. Epitácio processou o jornalista. Mário foi condenado. Tratava-se, na realidade, de dois processos: o primeiro, instaurado em novembro de 1923, por crime de injúrias e calúnias impressas contra ex-presidente e o segundo, instaurado em janeiro de 1924, por injúria a particular.

No primeiro, Mário Rodrigues foi condenado, em 1° instância, a um ano de prisão e multa de 10 contos de réis, confirmada pelo Supremo e, no segundo, foi condenado a dois meses e 20 dias de prisão e multa de um conto e 600 mil réis, confirmada pela Corte de Apelação.

Durante a prisão, Mário teve o salário cortado e contou somente com a ajuda de Geraldo Rocha, dono do jornal A Noite, concorrente do Correio da Manhã. Edmundo só manteve o valor referente ao aluguel de onde a família Rodrigues morava, na Tijuca, bairro do Rio de Janeiro.

De volta à redação, Rodrigues encontrou um substituto, além de saber de uma aproximação de Edmundo Bittencourt com Epitácio Pessoa, antigo inimigo. Foi o suficiente para pedir demissão. Mário rompeu com Edmundo Bittencourt através de uma carta desaforada, escrita depois de beber muita cerveja Fidalga e o advertiu que voltaria para “esmagá-lo”.

E voltou. Mário fundou, em 1926, o Jornal A Manhã. “Pelas páginas dos dois jornais ia começar uma guerra de egos capaz de reduzir os políticos nacionais a soldadinhos de cartas de baralho” (Castro, 1992, p. 44). Dentre os colaboradores estavam Monteiro Lobato, Ronald Carvalho e o caricaturista Andrés Guevara.

Durante esse período teve problemas com o governo de Arthur Bernardes, que colocou censores na redação do jornal. Então, já que não podia criticar o presidente, criticava os políticos menores, e era implacável. Nos dois primeiros anos da publicação, sofreu doze processos e foi absolvido em todos, fato que lhe dava confiança para seguir com suas críticas. Mário desafiava suas vítimas com a frase, logo acima da assinatura: “Se não gostarem, processem-me”.

Mário teve grande sucesso com o empreendimento. “A força dos artigos de Mário Rodrigues, verdadeiro Homero do jornalismo político, assim como o alto nível dos textos do jornal, principalmente os policiais, tornaram A Manhã, em menos de um ano, o matutino mais vendido do Brasil” (Coelho, 2004, p.22).

Mas Mário perdeu o jornal, por causa da falta de talento para administrar o negócio, para o sócio, Antônio Faustino Porto. Mas em menos de dois meses, Rodrigues empreendeu um novo desafio. Após 49 dias, no dia 21 de novembro de 1928, Mário, com a ajuda do vice-presidente Melo Viana, teve o tempo suficiente para fundar outro periódico: Crítica. O jornal pouco se diferenciava dos veículos da época, mas com a tarimba de Mário aos poucos ia ganhando terreno e se firmando como um jornal austero – se é que se pode dizer isso de qualquer órgão comandado pelos Rodrigues. O lema, que vinha logo abaixo da fachada, era: Declaramos guerra de morte aos ladrões do povo.

O jornal era forte em todas as editorias, principalmente em política, dirigida por Bezerra de Freitas, Danton Jobim e Rafael de Holanda. A editoria de esporte era chefiada por Mário Filho e nela trabalhavam Nelson e o irmão mais novo, Joffre, com apenas 13 anos. Mas a sensação do periódico era a última página, dedicada aos crimes. Diariamente os repórteres de Crítica descobriam algo e exploravam a tragédia até a última gota de sangue.

Os filhos mantiveram a tradição do oficio – os homens durante a vida toda, as moças pelo menos em alguns momentos. Milton, o mais velho, era secretário, Roberto era o repórter ilustrador e tinha uma atração pelo mórbido, pela dor. “Era o pintor das almas modernas, do tumulto orgiástico, das noites sensuais. Brando, tímido, silencioso, o jovem artista foi um espírito torturado” (Coelho, 2004, p. 21). Segundo Ivan Cláudio, jornalista, Roberto desenhava desde os cinco anos e aos 13 teve seus desenhos publicados numa revista infantil.

Mário Rodrigues Filho editava a página Arte e Cultura, depois Espírito moderno. “É também em Crítica que Mário Filho cria o jornalismo especializado em futebol. Suas entrevistas com jogadores de futebol, ainda amadores, foram as primeiras do gênero. Mário promove a profissionalização do esporte, o concurso entre torcidas, a celebração dos clássicos, sobretudo o Flaxflu” (Coelho, 2004, p.23). Graças a essas realizações, o maior estádio do Brasil, apesar de conhecido como Maracanã, tem seu nome. “Mário Filho foi o inventor do futebol como espetáculo épico como todos conhecem, sociólogo do esporte bretão e pai da crônica futebolística” (Xavier, 2003).

Juntos, Milton, Mário Filho, Roberto e o desenhista Guevara criam, em 1927, a revista Jazz, que circulou somente por cinco números.

O filho, Nelson Rodrigues, escritor de Vestido de Noiva (1946), é considerado “criador” do teatro moderno. Prudente de Moraes Neto afirmou sobre Nelson: “Vestido de Noiva, representa, sem a menor dúvida, para o teatro brasileiro, como Villa-Lobos para a música, Portinari para a pintura, Oscar Niemeyer para a arquitetura, o primeiro marco de uma realização universal” (Neto apud Pereira).

Nelson foi conduzido por Milton para a reportagem policial. “Com um ano de métier, o repórter policial adquire uma experiência de Balzac” (Coelho, 2004, p.22). Nelson descobriria isso no exercício de sua carreira, que se estendeu até seus 68 anos de vida. A experiência na reportagem policial foi importante para a obra teatral desenvolvida pelo escritor. Nelson sofreu forte influência dos irmãos mais velhos. “Diante de algumas obras de Roberto – cenas de velório, amantes enlaçados em ambientes lúgubres – se tem a inequívoca sensação de estar diante de passagens antológicas das peças do dramaturgo (Nelson Rodrigues)” (Cláudio, 1993).

Em maio de 1929, o pai e os filhos jornalistas foram presos durante cinco dias, por ordem do chefe de polícia, sob a alegação de envolvimento em atentado contra um jornalista argentino. Nelson escapou, porque estava em Recife. Mas o próprio Mário admitia que, muitas vezes, o jornal era sensacionalista e previa: “Um dia alguém de Crítica levará um tiro”.

O tiro veio no dia 27 de dezembro de 1929. No dia 26 de dezembro, Crítica publicou a notícia do divórcio de Sylvia Serafim e João Thibau Jr. com insinuações de adultério, o que para a sociedade da época era um escândalo. Ofendida, Sylvia comprou um revólver e entrou na redação de jornal disposta a matar Mário Rodrigues, mas Mário havia saído e Roberto a atendeu e sofreu o atentado. Roberto faleceu três dias depois. Mário Rodrigues ficou deprimido com a morte do filho e faleceu em 7 de março de 1930. Sylvia foi absolvida do crime.

O jornal passou às mãos de Mário Filho e Milton Rodrigues, e, segundo Coelho, “seu perfil político é alterado, ampliando-se o espaço dedicado ao esporte e ao crime. Quando Getúlio chegou ao poder, em 24 de outubro de 1930, o jornal é empastelado no mesmo dia” (Coelho, 2004:24). Após o ‘empastelamento’, os irmãos ficaram desempregados. Mário foi trabalhar no jornal O Globo, graças à amizade com Roberto Marinho e levou Nelson. Os jornais, feitos com linguagem refinada, se firmavam, nesse período, como os grandes meios de comunicação de massa, antes do rádio. “foi a última geração romântica da imprensa” (idem op.cit. p.22).

Nelson passou a fazer um jornalismo mais neutro e começou a escrever crônicas, críticas e fazer teatro. “O estilo de Nelson focaliza a vida de escritor, mas também se abraça com paixão à obra. É, antes de tudo, o cronista que se identifica com o resenhado” (Coelho, op.cit. p.25).

De acordo com Daniel Piza, no livro Jornalismo Cultural, essa é uma crítica informativa, centrado em discorrer sobre o autor, sobre sua importância, seus modos, seus temas. A voz de Nelson durante a Ditadura Militar (1964-85) era duplamente incômoda para os militares.

Anticomunista convicto e raivoso, fora praticamente o único intelectual brasileiro a apoiar e justificar o golpe de 1964 e os ditadores militares. Mas era, também, a voz de um pai que tinha acesso aos meios de comunicação. Apoio que terminou em 1972, quando Nelson se convenceu da existência de torturas, das quais seu filho, Nelsinho, condenado a 72 anos de prisão, era uma das vítimas. “O velho publicou uma matéria na Folha de S. Paulo em 76, na parte central do caderno A, em que falava que fui torturado e pedia anistia total. O velho não deixou de apoiar o regime por minha causa, ele nunca disse isso”, contou Nelsinho.

Nelsinho disse, em entrevista, que foi reconhecido pelos militares como filho de Nelson Rodrigues, mas que não desfrutou de regalias por causa dessa prerrogativa.

“Fui preso porque fui confundido com outro cara. Aí depois que descobriram que eu era o filho do Nelson Rodrigues e disseram que era pra não marcar. Por ser filho do velho, eu não fui morto. Mas isso também não me valeu de muitos privilégios não. Fique preso por 2 anos e 4 meses, mais ou menos, sozinho numa cela. Tomei banho de sol, nesse tempo todo, quatro vezes. Fiquei preso no centro da cidade pra facilitar pro velho, eles davam colher de chá pro meu velho, mas não davam pra mim”.

Trecho da minha monografia de final de curso de Jornalismo
Divulgação em homenagem aos 100 anos de nascimento de Nelson Rodrigues

quarta-feira, 14 de março de 2012

Alunos da UFG no Facebook

Wisllay Martins Vítrio dos Santos e Paulo Cézar Pereira Costa, alunos do 7° e 8° períodos do curso de Ciências da Computação, da Universidade Federal de Goiás (UFG), são selecionados para estágio na sede da rede social Facebook, em Menlo Park, Califórnia, Estados Unidos.
Os alunos foram convidados para participar do processo seletivo depois do bom desempenho na Maratona de Programação da Sociedade Brasileira de Computação (SBC), com final nos dias 4 e 5 de novembro deste ano em Goiânia.
O processo de seleção teve uma entrevista com um profissional de Recursos Humanos, via Skype – sistema que permite conversar gratuitamente com pessoas em qualquer parte do mundo, via internet, em Inglês. Em seguida, houveram mais três entrevistas técnicas, com engenheiros de software da empresa.
Na fase das entrevistas técnicas, os engenheiros fornecem um ambiente colaborativo aos candidatos, que recebem problemas e devem solucioná-los de acordo com o determinado pelos avaliadores.
Para integrar a equipe que desenvolve os sistemas do Facebook durante três meses, Wisllay e Paulo Cézar receberão uma bolsa para custeio de despesas, passagens de ida e volta, hospedagem, alimentação, lavanderia, telefones celulares e computadores para uso durante o período de estágio.
Os dois alunos embarcarão para a Terra do Tio Sam em junho de 2012 e devem voltar em setembro. Mas os dois não pretendem parar por aí. “É uma oportunidade única. Quero aproveitar ao máximo e conseguir uma vaga de emprego na empresa”, afirma Wisllay.
Não há dúvidas de que a oportunidade abrirá portas para saltos cada vez maiores para os dois. “O bom é que os alunos e professores perceberam que é possível. Fizemos o processo achando que não tínhamos muita chance, mas conseguimos”, conta Paulo Cézar.
Paulo, que saiu de Pires do Rio (GO) para estudar em Goiânia, diz que era um aluno desmotivado e relapso, mas sua postura mudou depois da maratona e, principalmente, depois do resultado da seleção. “Ninguém dava nada por mim. Tava perdido, pensando em desistir do curso, mas o treinamento para a maratona me incentivou.”
A preparação começou antes da Maratona de Programação, mas continua até a data da viagem. “Estou começando a me preparar agora, estudando alguns padrões de programação deles”, acrescenta Paulo Cézar.



XVI Maratona de Programação
A final da XVI edição da Maratona de Programação aconteceu nos dias 4 e 5 de novembro deste ano e foi é promovida pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC) e realizada em parceria com a Fundação Carlos Chagas.
Para participar da final brasileira, foram selecionados 50 times (com três alunos cada) da primeira fase da Maratona, ocorrida em 17 de setembro, quando 536 times de 191 instituições competiram em várias sedes espalhadas pelo País.

A Universidade Federal de Goiás foi a responsável pela organização da final nacional, que teve o professor Humberto Longo, do Instituto de Informática da universidade, como diretor.

A tarefa das equipes consistiu na resolução de 11 problemas em, no máximo, 5 horas. Os programas foram testados com uma ferramenta desconhecida dos competidores e somente os que apresentaram a resposta correta para todas as avaliações foram considerados no placar final.